Anastécio (vulgo Maria Velha), ele de 64 anos de idade, ela de 60, formam aquele simpático casal que, de há longa data, em cada ano permanece na Berlenga 8 meses, incumbido das mais variadas tarefas.
São eles que zelam pela limpeza duma parte desta maravilho
sa ilha, em particular, a zona do Carreiro do Mosteiro, que vigiam e põem em funcionamento os geradores de corrente, que acolhem em sua modesta casinha com a mais cativante hospitalidade qual quer pescador em apuros, dando -lhe, quantas vezes, de sua comida e dispensando-lhe até a sua cama. E sempre que foi caso disso, o ti João também sabe prestar primeiros socorros.
A casa é modesta. dissemos, (neta foram todavia crescendo na sua companhia, sabe Deus como, os seus quatro 1i1hos, hoje casa dos) mas, desde há pouco tempo, o Proprietário (a Exma Camara) lá a dotou com uma casa de banho e mais um quarto.
Com a maior regularidade dura o cumprimento desta missão há 23 anos ao serviço do município local.
O Ti João vê com muita apreensão o seu dia de amanhã pois, sendo considerado apenas trabalhador eventual, não só está privado de beneficiar de qualquer
espécie de assistência gratuita como sente já angustiadamente
pesar no seu espírito a ameaça duma velhice sem reforma.
— Será este o prémio da grande dedicação que tem por aqueIa ilha, onde é de tanta importância a sua presença?
— Quem tão longamente vive ria assim mergulhado na solidão, uma solidão que só na época estival é quebrada pela companhia dos turistas?
Há, no entanto, muita gente para quem a vida deste casal não é indiferente e bem significativo testemunho disso foi aquele jantar de homenagem com que no
Verão passado, no dia 7 de Agosto o Grupo de Amigos da Berlenga o brindou.
E vem até a propósito dizer que, apesar das limitadas possibilidade de deslocação para
aquela ilha, e do problema de espaço para reunir numa sala muita gente, ainda assim o ti João
e a ti Maria Velha viram-se na quele dia, no Pavilhão Mar e Sol, envolvidos pelo calor humano de 119 bons amigos que muito os estimam.
Discursos, canções, projecção de diapositivos, ofertas de recordações animaram o acontecimento onde, em vez de rotineiro protocolo, quem verdadeiramente
pontificou, em tudo o que se passou naquela inesquecível noite, foi o coração.
— Será que a Justiça vai ser madrasta para o Ti João e Ti Maria Velha?
Publicado em "A Voz do Mar" em 1976
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